27.1.11

 

Perspectiva Pós-Eleitoral

Terminou a tagarelice eleitoral, com o desfecho previsível : vitória folgada de Cavaco Silva à primeira volta, apesar de ter baixado a votação alcançada há 5 anos, quase menos 500 000 votos, mesmo assim, com mais do dobro dos votos do segundo classificado, Manuel Alegre, que perdeu cerca de 300 000 votos, em relação ao número atingido em 2006.

A abstenção dominou o panorama, traduzindo o alheamento ou o desinteresse da população com a Política, maioritariamente servida por maus intérpretes, desgastados, desacreditados e inevitavelmente desdenhados pela maioria do eleitorado.

Alegre iludiu-se com a aliança firmada com Sócrates, que, no final da noite, o abandonou à sua sorte de perdedor.

Sairam-lhe furadas as perspectivas de vitória, sustentadas por apoios tão díspares e contraditórios, como os representados pelo radical Louçã e pelo «socialista moderno», neoliberal, José Sócrates, que continua a destruir o Estado de Bem-Estar Social, agora com o rebaixamento das indemnizações aos trabalhadores despedidos, que, no futuro, ainda terão de contribuir para o fundo colectivo das suas próprias indemnizações, aliviando significativamente os encargos das Entidades Patronais. Mais uma maravilha da «governação socialista» socrática.

Entretanto, Sócrates prepara-se para se ver reeleito líder do PS, não se vislumbrando ninguém que lhe dispute o lugar.

Carrilho talvez se afoite, para salvar a honra daquele destroçado convento «socialista», já que Alegre abandonou levianamente essa luta, única coisa politicamente válida que ainda poderia fazer e pela qual muitos, mesmo seus adversários ideológicos lhe ficariam gratos.

Ajudar a arredar alguém tão desacreditado como Sócrates seria um trabalho largamente meritório, para a sua família política e, por extensão, para os demais portugueses.

O destino da Social-Democracia, em Portugal, com um PSD permanentemente subjugado ao ideário neoliberal e um PS entregue ao oportunismo e à incompetência socrática, parece assim obscurecer-se de vez, com o confirmado desvirtuamento dos dois grandes partidos moderados, centrais no espectro político, tradicionalmente vocacionados para encarnar, entre nós, a solução social-democrática.

Resta a esperança de que, ao menos, surja gente tecnicamente mais competente e eticamente mais válida, para orientar estes claudicantes partidos, os chamados Partidos de Poder, por excelência.

Fora desta hipótese, só a fundação de novas organizações políticas, sob a forma partidária ou na de qualquer plataforma frentista, pode permitir ensaiar tal esperança.

Mas para tal acontecer, é necessário que se descubram figuras carismáticas, libertas de passado comprometedor, dispostas a arrostar com as presentes dificuldades.

Se nada disto ocorrer, preparemo-nos para um lento, mas contínuo empobrecimento colectivo, sem garantias democráticas, ao cabo da geral penúria : material, espiritual, ética, cívica e cultural.

Quem me dera que tudo isto fosse só pessimismo...

AV_Lisboa, 27-01-2011


This page is powered by Blogger. Isn't yours?